A dúvida que paira no limiar entre a realidade e a ficção traz uma sensação de imersão deliciosa. Quem nunca quis compartilhar por um momento os medos, alegrias, conquistas e tudo o mais pelo que o personagem passava? - admita que sim, não vamos contar para ninguém. Vamos concordar que não tem nada melhor do que terminar um filme com aquele sentimento pós créditos depois de um “Baseado em fatos reais” se perguntando se era tudo marketing da ficção ou se aconteceu de verdade trazendo um arrepio na espinha do início ao fim, ou então iniciar um livro já com a semente da dúvida plantada logo no prefácio quando nunca saberemos se o autor - foi ele mesmo quem escreveu? É o relato de um sobrevivente? São vestígios de alguém que não sobreviveu? - fez parte daquilo ou não. Ah, isso não é maravilhoso? Essa linha entre a ficção e a realidade baseada num e se? regada a referências, easter eggs e vestígios trazendo a narrativa cada vez mais para nosso mundo.
Nós vivemos de referências (tudo bem, você talvez não, eu digo nós ~ amantes de ficção... Ficção?), afinal Steve Rogers tá aí pra isso né. Mas se a arte imita a vida, a vida imita a arte e nós nunca saberemos o que realmente aconteceu primeiro. E não seria estranho demais encontrar histórias na vida real que traçam uma tênue coincidência (será?) com a ficção e flertam com nossa percepção do que é ou não real? É o que acontece quando a realidade extrapola a ficção e encontramos relatos como “shadow people”.
Embora não exista um consenso científico para definir o que realmente são shadow people, esse é um termo usado para se referir a certas sombras em formato humano que algumas pessoas enxergam brevemente ou ainda relatam terem sido visitadas enquanto dormiam. As divergências das definições vão desde espíritos malignos até viajantes do tempo e alienígenas, ou simplesmente pessoas presas entre o mundo espiritual e o material. Se é verdade ou não, não há provas nem consenso, mas essas sombras permanecem sendo relatadas
Um livro com uma premissa muito peculiar que passa uma sensação muito parecida com essas sombras é Brightville do Mateus Rizzo, autor do Wattpad - plataforma de publicação online.
Sinopse:
Brightville, uma pequena e tradicional cidade do estado de Washington, representava tudo que Mark, um obsessivo e problemático ex-agente do FBI, e sua família precisavam. Tranquilidade, um bom ambiente e, principalmente, uma tela em branco, onde pudessem recomeçar. Após alguns meses em Brightville, porém, a ilusão de tranquilidade começa a se desfazer e a cidade pequena e nevoenta passa a se parecer cada vez mais com um cenário de terror, trazendo a tona velhas chagas e feridas que o tempo não conseguiu cicatrizar. Quando um criminoso brutal começa a atacar nas noites da cidade, as coisas chegam em um ponto de ebulição e Mark precisa descobrir os segredos de Brightville e o que realmente se esconde nas sombras, antes que tudo se perca, incluindo sua família, a cidade e ele mesmo.
Esqueça os clichês de gênero, esqueça qualquer coisa que vier a sua mente ao imaginar terror. Muito mais que o sangue e o gore, o livro vai além e traz um jogo psicológico, um jogo com o pavor íntimo de cada um, o verdadeiro terror. Mas antes de tudo traz um cuidado notável e minucioso com o texto em cada palavra e expressão ao elaborar diálogos e situações muito bem escritos e verossímeis com seu contexto social, é extremamente fácil enxergar as cenas acontecendo da forma como são descritas pelo cuidado que o autor tem com o cenário e o léxico adequado.
Nós entramos em Brightville com Mark, com a promessa de uma vida nova, acompanhamos ele em sua mudança e somos tragados com ele num caminho sem volta. Mais que um cenário, Brightville é o personagem principal dessa estória. A cidade é um organismo vivo que dorme e acorda junto com as pessoas e em meio a Brightville há um outro personagem enigmático com o qual seus habitantes convivem: a escuridão.
O leitor imerge na tensão do personagem conforme cai a noite, e precisa correr atrás de todas as peças encaixando-as antes que amanheça porque logo será um novo dia e antes que perceba cairá a noite mais uma vez. A narrativa te leva entre os personagens num ritmo frenético de acontecimentos simultâneos durante as noites enquanto eles são obrigados a encarar seus medos e fracassos do passado revivendo-os. Nós conhecemos os personagens pelo ponto de vista do narrador e dos outros personagens como se fossemos mais uma pessoa comum da cidade conhecendo-os. Depois somos levados ao seu passado para encarar seus medos junto com eles em meio a suas mentes num jogo sádico e doentio entre Mark e um vilão invisível dez passos a sua frente.
O livro te convida para mudar de vida com Mark em uma pacata cidadezinha, tentador e irrecusável. Você aceita, óbvio, é um convite sedutor e atraente, porém sem volta. Uma cidade onde cada um tem uma motivação que o faz seguir em frente mas tem também o peso da culpa e do medo; a sombra dessa culpa e medo residentes no passado paira agora sobre seus donos. Você sabe o que é real quando as luzes se apagam?
Bem vindo a Brightville: uma cidade pequena, um futuro brilhante. Não esqueça de apagar a luz ao fechar a porta deixar a luz acesa.
O autor, Mateus Rizzo, é um cara qualquer: 19 anos que devia crescer, mas, em vez disso, prefere escrever histórias de terror e compartilhar fotos de gatinho nessa grande rede mundial de computadores. Mentira, de qualquer ele não tem nada e vocês podem conferir isso na entrevista exclusiva. “Conta pra gente como você se sentiu quando descobriu que a realidade plagiou seu livro” Clique aqui para ler a entrevista.
Entre ficção e realidade, fica ai o questionamento. Na dúvida deixo o link do livro aqui ;)
Página do autor aqui
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