Antigamente quando a gente lia ou assistia algo havia um certo conforto em saber que o personagem principal ia sobreviver ao final de toda a narrativa independente dos obstáculos que fosse obrigado a passar e, geralmente, sabíamos também que o herói vencia o vilão no clássico bem contra o mal. Ou para ensinar princípios ou porque era uma formula que funcionava mesmo, isso não vem ao caso. E hoje? Quando você está lendo ou assistindo algo, o que é o esperado, que o personagem principal sobreviva ou morra? Não importa o que você respondeu, você acertou.
O leitor de hoje não espera mais que o personagem principal viva só porque é o principal, a gente quer que o personagem viva apenas porque gostamos dele mas não criamos expectativas só por ser o principal, não mais. O clichê não é mais viver, a gente também espera que ele morra. Já nos acostumamos com essa possibilidade, obviamente que não contamos com ela muitas vezes simplesmente porque não queremos mesmo, mas sabemos que ela existe sim. Atualmente você não pode mais surpreender com ~o que~ deve fazer isso com ~como~. As ações ou acontecimentos (viver ou morrer) até podem ser previsíveis, o imprevisível deve vir do como.
Viver só por ser o principal é clichê, assim como matar só por ser o principal para quebrar esse clichê também é clichê. Assim como na vida, o personagem tem duas possibilidades para sua existência dentro da narrativa: viver ou morrer e já nos acostumamos com isso, não esperamos mais pelo final perfeito do felizes para sempre. O COMO o personagem vai sobreviver ou ser derrotado de todas as formas na vida é que deve surpreender. Claro que a obviedade do clichê é diferente de um acontecimento esperado pela coerência da narrativa, esse ultimo não é um mero clichê - se ele foi trabalhado no como.
Outro ponto, um personagem principal se dar bem não significa que ele se deu bem só porque era o principal. Quer dizer que ele não merecia isso só porque ele era o principal? Algumas pessoas tem essa ideia batida de que é preciso quebrar esse antigo padrão de os bons ou principais conseguirem tudo, quebrarem as regras ou serem as exceções pelo único motivo de serem os principais. A questão é, o fato de serem os principais tira deles o direito de conseguirem essas conquistas só porque é um fato batido e seus autores tem a obrigação de impedí-los para quebrar um padrão? Isso não seria injusto com eles? O único dever do autor/roteirista/seja la o que for é tentar surpreender no como seu personagem vai fazer o que bem entender.
Muito bom o texto,tem várias coisas que eu concordo.
ResponderExcluirAcho que os clichês ainda fazem parte de algumas construções atuais, afinal, o que seria da vida sem um belo clichê, mas gostei da forma que me convidou a pensar sobre o assunto... O clichê não é mais algo ou alguém, mas o modo como acontece... Bem legal!!
ResponderExcluirGosto de clichês. Normalmente, nunca encontro algo que me agrade. :(
ResponderExcluirAdorei seu texto.
Gosto de clichês. Normalmente, nunca encontro algo que me agrade. :(
ResponderExcluirAdorei seu texto.
Excelente texto, Ali! Demais!
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