13 Reasons Why vai para seu segundo mês e já não é nem de longe uma novidade, deixando espaço para outras polêmicas muito mais atuais no nosso mundo movido pela urgência da tecnologia onde vivemos a cada dia um novo ~museu de grandes novidades~ (enquanto corremos contra o tempo para chegar desesperadamente ao final de mais uma temporada e ao mesmo tempo fugir dos spoilers). - Cazuza tinha razão quando profetizou a nossa vida quase trinta anos atrás. Então porque vou falar sobre isso?
Por que uma menina morta mentiria?
Mas esse mesmo mundo é cheio de Porquês, então mesmo que um mês pareça anos e milhares de coisas já tenham acontecido e sido ultrapassadas, mesmo que milhares de coisas já tenham sido ditas sobre 13 Reasons Why - ainda que milhares de pessoas continuem por ai ignorando todas elas - , mesmo que milhares pessoas já tenham sido atingidas pela importância de 13 Reasons Why e isso tenha sido exaustivamente debatido, acredite… ainda existem milhares de Porquês no mundo. Ainda existem milhares de Porquês em todos os lugares, assim mesmo com maiúscula, pessoas porquês. Por isso mesmo depois de tanto tempo, depois dessa infinidade de coisas que já aconteceram em tão pouco tempo ainda é importante falar sobre o quão absurdo é existirem tantos Porquês.
Hannah Baker deixa uma caixa com fitas cassete nas quais ela gravou todos os motivos que levaram ela a cometer suicídio, essas fitas são endereçadas a cada um que contribuíram para seu declínio. Ou seja, cada um que era um Porquê tem sua própria fita contando o que fez e como aquilo ajudou a matar Hannah. Todos, de alguma forma, afetaram a vida de Hannah. Ela deixa como um aviso e (por que não?) uma satisfação, quem sabe um alerta. Mas ela também desencadeia um efeito dominó ao disparar milhares de gatilhos em nós e em todos a sua volta mesmo depois da sua morte. [spoiler] Enquanto nós somos arrastados e levados com ela cada vez mais para o fundo do poço, vemos disparar um gatilho atrás do outro desde os mais comuns como bullying no colégio até relacionamentos, abusos, machismo, cultura do estupro, estupro e por fim o próprio suicídio. Todos a sua volta a quem as fitas estão endereçadas contribuíram para o rumo angustiante e desesperador que sua vida toma enquanto ela tenta pedir ajuda de várias formas. Menos Clay, ele não fez absolutamente nada e foi exatamente isso o que ele fez de errado. Porque se você vê tudo o que está acontecendo de errado e não faz nada para impedir, você é parte de tudo aquilo. O maior erro do Clay foi estar presente em cada um dos momentos de alguma forma, direta ou indiretamente e não salvar Hannah dos outros ou dela mesma. Ele foi um espectador da vida dela quando poderia ter sido parte dela. Hannah coloca ele nas fitas como um dos porquês com outra explicação mas a verdade é que ele assistiu muitas coisas acontecerem assim como muitas pessoas assistem muitas coisas acontecerem todos os dias e se calam. Existem muitos Clays que poderiam mudar muitas histórias de muitas Hannahs todos os dias. [/spoiler]
Então eu acho muito seguro dizer que a maior mensagem da série é empatia e foi ai que eu percebi que havia algo muito errado com as pessoas. O primeiro grande paradoxo aconteceu ainda enquanto eu assistia a série, eu estava lendo comentários sobre um dos episódios em um aplicativo e algumas respostas eram pesadas, ignorantes e discriminatórias, era um absurdo e sem sentido que aquelas pessoas estivessem assistindo a mesma coisa que eu. Eu não conseguia entender como aquilo não estava tendo o mesmo impacto naquelas pessoas, como elas poderiam agir daquela forma ou pior: como elas poderiam absorver tudo o que estavam assistindo e ainda assim agir daquela forma com tanto ódio e preconceito.
Numa tentativa de fugir das nossas responsabilidades e nos isentar das nossas culpas diárias, buscamos desesperadamente justificativas para nossos atos ao nos apresentarmos aos outros com uma identificação com Hannah Baker, quando na verdade somos todos Porquês fugindo do choque de uma realidade escancarada nos escondendo de nós mesmos. Sejam esses atos grandes ou pequenos. Em meio a tantos gatilhos a que somos expostos ao longo das treze fitas, é mais fácil - e muito conveniente - sermos uma Hannah do que admitirmos que já fomos um (ou muitos) Porquê alguma vez na vida e encarar que a realidade é muito pior do que gostaríamos. Para não ser um Porquê temos que saber que podemos ser um a qualquer momento, temos que aceitar que provavelmente já fomos um em algum momento e que terrivelmente podemos ser de novo. Mas podemos não ser e isso só depende de como encaramos e aceitamos todos os porquês do mundo. Nós vivemos todos os dias milhares de gatilhos e todas as pessoas a nossa volta também, cada um trava sua própria batalha para desviar deles e sobreviver ao mundo - e a si mesmo.
Todo mundo que você encontra está lutando uma batalha que você não conhece, seja gentil sempre.
Já temos gatilhos demais no mundo, não seja mais um Porquê na vida de alguém. Existem muitos pedidos de ajuda silenciosos a nossa volta e tudo o que essas pessoas precisam é empatia.
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