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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Saber Tanto Quanto o Personagem: Uma Imersão



Eu sempre gostei de estórias bem fechadas com começo, meio e fim. Todas as respostas nas nossas mãos, todos os nós dados, sem pontas soltas e uma coca, por favor moço. Para mim, se você vai contar algo que conte direito, eu era bem chata, não? Bem, essa visão mudou quando eu conheci The Walking Dead.

Você vai falar de The Walking Dead de novo?? / vou sim e se isso for um problema pode clicar ali no X da aba ._.



Muito bem, Rick acorda em um hospital e se vê em um mundo tomado por mortos vivos. Espera. Espera ai tio kirkman, tem algo muito errado nisso, está faltando algo aqui. Aqui ó, você não está me ouvindo né? Ele fatalmente não me ouviu e nunca soube que em sua HQ ficou faltando algumas páginas. Mas o que diabos aconteceu ali?? Como poderia ser normal você dizer que o mundo foi tomado por mortos vivos enquanto uma pessoa estava em coma sem explicar nada e todo mundo aceitar isso?

Mas tudo bem - não estava tudo bem, obviamente mas a vida continua né - a gente parte para os próximos quadrinhos, próximos episódios… Nós não sabemos o que acontece no mundo, sequer temos noticias de qualquer lugar através de artifícios do autor e a sensação de ~que diabos aconteceu naquela fenda temporal te persegue de uma forma bem incomoda.

Mas Fear…. - Não. Já falei sobre isso no outro post, me deixa continuar.

Só que de repente você percebe que esse desespero de não saber o que aconteceu é exatamente o mesmo do personagem e então te atinge em cheio a noção de como isso é genial, justamente o fato de não saber te proporciona os mesmos sentimentos do personagem. O mesmo desespero que ele, a mesma angustia que ele procurando sua família e depois o alivio de encontrar, a mesma confusão naquele mundo bizarramente transformado. Vocês passam pelas mesmas descobertas juntos e a visão de mundo do personagem se torna a sua. Pausa. Veja a genialidade, você entrou na mente dele, os olhos dele se tornaram os seus, a percepção de realidade dele se tornou a sua.

[spoiler] Eu acho que isso já caiu em conhecimento popular mas é bom usar a tag né. Bem, de repente eles descobrem que todos - tipo eu e você - já estão contaminados ou seja lá o que e só precisam morrer para virar walker e pense no quanto isso é desesperador e incrivelmente interessante. A essa altura que diferença faz você achar o paciente zero se não tem como curar as pessoas? Não tem como vacinar se não existe ninguém sem a “doença” para ser vacinado. É tão desalentador e caotico. Eu me lembro daquele momento na HQ da clássica frase “we are the walking dead” quando os personagens são tomados pelo choque de realidade que é de fato conviver com os mortos caminhando ao seu lado, assumindo esse mundo.[/spoiler]

Caminhar ao lado dos personagens - quase literalmente tamanha a sua imersão - até aqui, te proporciona uma sensação muito mais ampla e intensa quanto aos acontecimentos daquele universo. É um sentimento muito mais real e similar ao do personagem do que, se o autor te contasse seus segredos. Ele está te dizendo ~ eu quero que você experimente essas sensações, por isso nunca vou te contar como isso começou da mesma forma que os meus personagens não sabem, quero que você saiba tanto quanto eles e caminhe nesse mundo da mesma forma que eles, explore essa realidade da mesma forma que eles.

Chega a ser sedutor como de repente vira um enigma que não faz mais diferença ser desvendado, pelo menos partes dele, pelo menos para alguns de nós - sobre The Walking Dead, não me importa mais saber se existiu um paciente zero - se torna irrelevante esmiuçar todos os detalhes quando você pode entrar na mente do personagem e deixar fluir sob essa óptica.  

Há outros casos, mas esse foi de longe o mais marcante porque foi o que me fez mudar essa visão. Eu levei isso para minha escrita, porque eu percebi que não saber tudo me leva para dentro da narrativa de uma forma incrivelmente unica então passei a explorar isso convidando o leitor a caminhar ao lado dos meus personagens. Eu comecei a ver tudo de um jeito diferente e nunca mais questionei tanto as pontas soltas, claro depois de xingar - muito - o autor porque ninguém é de ferro né.

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