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Siga o coelho e entre na toca, Aqui você vai encontrar textos sobre várias coisas te convidando a refletir. Mas lembre-se, eles foram escritos por alguém e expressam uma opinião, não uma verdade, você pode discordar ou não. * Spoilers estão identificados e ocultos, para ler selecione o trecho.

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domingo, 27 de dezembro de 2015

Retrospectiva 2015 ~ Parte 1




Essa é aquela época em que olhamos para trás e fazemos um balanço do ano e da vida. Então decidi fazer a mesma coisa com as séries que vi esse ano, porque não? Deixo aqui um balanço delas e mini reviews bem básicas afinal, elas fizeram parte da minha vida esse ano e em alguns momentos me fizeram realmente viver esse universo ou repensar a vida.

** O ícone da nota é do aplicativo TVShowTime, para administrar as séries que você assiste, super recomendo ;) Disponível para android, IOS e com versão para web.

Better Call Saul


Nota:

Esse é um Spin Off que se passa seis anos antes de Saul Goodman conhecer Walter White, ou melhor, seis anos antes de Saul Goodman ser Saul Goodman. A série conta a trajetória de Jimmy McGill tentando ganhar a vida como advogado de pequenas causas. Nesse percurso descobrimos ainda que antes disso ele foi um outro Jimmy e agora busca alinhar sua vida financeira e endireitá-la. E, olha só se não vemos um Mike seis anos antes de Walter também.

Confesso que achei o começo arrastado, mas a partir de um momento eu gostei de verdade. Cumpre o propósito de mostrar a evolução do personagem até o momento em que ele se encontra da forma como o conhecemos em Breaking Bad e isso é feito muito bem e com toda coerência.

House


Nota: 

Essa série estava na minha lista há um bom tempo e eu sempre adiava porque era muito grande e eu andava com muita coisa para fazer e um dia decidi começar. Esse foi meu erro - ou não - porque eu, ainda não entendo como, assisti tudo em menos de vinte dias. E se alguém perguntar, isso é humanamente impossivel. Mas eu fiz e, sim, eu fiz meus compromissos, dormi, comi, vivi… Mas House passou a fazer parte da minha vida de uma forma que nem eu acreditava. Eu podia dizer que esse era um comentário tendencioso de fã, mas fiz questão de contar essa historinha para mostrar que vi como quem não queria nada e a série me ganhou.

House é uma lição de vida em vários sentidos possíveis, é um drama profundo sobre uma mente complexa. Quando a vida está acima da ética e da moral, a verdade é mais valiosa que tudo e sentimentos nem sempre ficam onde se pode ver. O melhor e o pior do ser humano é jogado na sua cara num cotidiano mais denso possível: um departamento de diagnostico onde a vida e a morte estão em jogo. House te ensina de todas as formas possíveis a ser uma pessoa melhor.


Sense8


Nota:

Ah, você vai falar que gostou porque tá na moda, porque é dos irmãos lá que ninguém sabe escrever o nome, porque tem umas paradas LGBT - Perae, deixa eu dizer porque achei bom? - certo o blog é seu moça - obrigada.

Muito bem, eu assisti o primeiro episódio e achei confuso, vi o segundo e a série só foi fluir pra mim no terceiro. Então achei genial, eu senti que estava no universo dos irmãos Wachowscki. Mas não é por causa deles que eu gostei. É todo o lance complexo das relações entre as pessoas e seus significados, as conexões … Não se trata de falar sobre sexualidade, como as pessoas se apressaram em comentar fosse para defender ou criticar, é mais que isso: é sobre as conexões humanas. Para isso é inevitável tocar na sexualidade, machismo, drogas, criminalidade...  A complexidade que conecta as pessoas.


The Returned



Nota:

É muito bom. Muito. Mas me frustrei bastante com o fim porque foi cancelado e a temporada termina com muita ponta solta, você fica desesperado para entender certos personagens e fatos e PUF, acaba. Vai chegando perto do final e você tem a sensação de que falta acontecer muita coisa e não terá tempo para tudo. Logo você verá que estava certo. Então descobre que foi cancelado. Assiste, eu podia dar menos pontos só por causa disso, mas assiste que é bem legal.
Mas parece que a original francesa está de pé então rola tentar assistir ela.

Alguns moradores de uma cidade voltam a vida e retomam ela exatamente do ponto onde pararam sem se dar conta que haviam morrido. Isso não é spoiler viu, está na sinopse. Bem, não é como se fosse a coisa mais normal do mundo então não é como se estivesse tudo bem.


The Fall


Nota:

Aqui acontece algo bem interessante e, para mim, genial. A série te apresenta ao mesmo tempo investigador e assassino. Enquanto Stella Gibson procura pelo assassino - um serial killer -  de mulheres em uma cidade, nós acompanhamos as ações do próprio assassino. Diferente de muitas outras séries e filmes que perseguimos ele junto com o detetive. Talvez porque não seja a investigação o mais importante, mas sim entender a mente dele e ver ambos caminhando juntos, muitas vezes tão próximos.
Eu realmente recomendo isso.


12 Macacos


Nota:
~~

Moça, cê deu nota acima do possível ou os outros que foi abaixo?
Então...
Olha, meu comentário aqui é tendencioso viu. Quem conheceu a série há pouco tempo pode não saber, mas ela é baseada no filme de 1995 que eu assisti por volta de 2001 e virei muito fã. Eu gosto muito desse lance de viagem no tempo e esses paradoxos, então descobri que fizeram a série esse ano e fiquei muito contente.


Estamos em 2043, a maior parte da população foi dizimada por um vírus (esqueçam zumbis ok, é um vírus mortal apenas) e Cole volta até 2015 para descobrir como esse vírus se espalhou e como impedir o fim do mundo. Bem, as coisas não são tão simples, óbvio, ele é levado de uma pista a outra e entra literalmente numa perseguição através do tempo e contra o tempo (antes que chegue em 2017, quando o vírus matou 7 bilhões de pessoas).


Scream


Nota:

Baseado na série de filmes Pânico, temos aquele lance de dentro da série rolar uma análise de outras séries e filmes e isso não deixa de ser divertido porque você sente vontade de entrar lá e opinar, dizer que concorda ou discorda ou ainda inserir outra alternativa na roda de conversa. E, eu não posso deixar de dizer que o núcleo nerd é realmente legal - mais que isso, o trio cool é formado por duas garotas e um garoto, olha só! Bem, a trama segue aquele esquema de Serial killer e tal. O final me me surpreendeu, eu estaria mentindo se negasse viu. Mas ai você me pergunta porque não dei nota máxima, pelo clichê do geral, só. Mas se perguntar, eu recomendo, é legal.


**Leia a parte 2 AQUI**



Retrospectiva 2015 ~ Parte 2



**Leia a parte 1 AQUI**

Fear The Walking Dead


Nota:

A proposta é mostrar o que acontece em The Walking Dead durante o coma de Rick, com outros personagens, outra família, outra cidade… apenas nos contar como está o mundo enquanto ele está no hospital. Ele acorda do coma e encontra o mundo mergulhado no caos de um apocalipse zumbi e todo mundo se pergunta como isso aconteceu, Fear é um spin off que chega para explicar o que acontece nesse intervalo de tempo que The Walking Dead pulou.

A promessa é o começo do apocalipse, a promessa é cumprida nesse ponto. Já no sentido de se passar antes de The Walking Dead, pra mim ela é falha. Os personagens assimilam e aceitam muito mais fácil do que os personagens de The Walking Dead, sendo que está acontecendo muito antes da cronologia da série de Rick. Por isso a nota. Para os fãs da franquia, vejam e tirem suas conclusões.

Scream Queens


Nota:

Essa é a melhor pior série.
Moça porque você deu nota baixa se é a melhor não sei o que?
Bem, estou dizendo… Melhor pior série… Pense numa versão de “Todo mundo em panico” para Scream. Eu desanimei no meio da temporada, mas continuei porque não consigo largar as coisas. Não é a pior coisa do mundo, é só: “Sério? ._.” E é engraçado.
Temos um assassino em serie num campus da faculdade, irmandade, investigação interna… um pouco de comédia...
Veja, mas só se não tiver mais nada na sua lista.


Blindspot


Nota:

Vamos abrir um aparte aqui, geralmente eu assisto o piloto e ok. eu continuo vendo para saber se gostei ou não. Mas com essa série foi diferente, o piloto foi decisivo de uma forma bem positiva, eu posso dizer que ele me fez decidir continuar porque ele simplesmente me fisgou.

O que acontece: uma mulher é encontrada no meio da Time Square sem memória com o corpo coberto de tatuagens e uma delas é o nome de um agente do FBI. Passam a investigar cada uma das outras e se enfiam num verdadeiro labirinto caindo em casos como se o corpo dela fosse um mapa do tesouro. Pense num caça ao tesouro muito, mas muito sinistro. Cada tatuagem é um enigma a ser decifrado que leva a um caso ela própria é um grande enigma. Você se vê, junto com os outros agentes e ela própria em um labirinto de pistas.

From Dusk Till Dawn ( Um Drink no Inferno )



Nota:

Essa série foi realmente dificil de classificar, foi dificil decidir se eu gostei e quanto eu gostei. O que fez assistir foi a menção a vampiros em alguma sinopse que eu li, ela foi tão bem elaborada que não me deixou nenhuma duvida e fui ver. Eu continuei assistindo mais por não saber se gostava do que por estar presa mas então veio a parte interessante, esses vampiros são bem ~ exóticos ~ na falta de uma palavra melhor e remonta a mitologias e simbologias da América Latina.


Mas se você gostou, no fim, porque não deu a nota máxima?
Bem, eu não terminei com a sensação que minha vida tinha acabado ou que o mundo precisava ver como aconteceu com outras coisas. Mas, sim, eu indico.

É uma adaptação do filme de 1996, os irmãos Gecko são perseguidos por Texas rangers após um assalto a banco e fogem rumo a fronteira com o México. A fuga termina num reduto disfarçado de strip club, um verdadeiro labirinto que mudará para sempre a vida deles e daqueles que foram carregados para lá no meio do caminho.


Jessica Jones


Nota:

Mais uma adaptação da Marvel feita pela Netflix, Jessica Jones vive como uma detetive particular em Hell’s Kitchen, NY, enquanto tenta superar traumas do passado e fugir deles. Porém as coisas podem não estar em seu devido lugar e ela vai descobrir isso.  


Confesso que conheci Jessica só pela série mesmo então vamos lá. Jessica Jones é sobre personagens fortes, cenas intensas e uma estória profunda. Sabe quando você é criança e seu heroi preferido é masculino e geralmente acha as personagens femininas muito chatas e entediantes? Eu te apresento Jessica Jones. A relação complexa entre Jessica, Kilgrave e todos que os rodeiam relativiza nossa percepção e faz com que você se obrigue a todo momento a realinhar seus conceitos; como se você - espectador - fosse mais uma vitima do vilão precisando ser guiado por Jessica.


Master of None


Nota:

A série se passa em torno de situações cotidianas e inusitadas ao redor de Dev e seus amigos, mostrando desde as coisas comuns e até algo corriqueiro que tomou um rumo bem inusitado. Dev é um ator e nós vemos ele tendo que lidar com sua vida pessoal e profissional em meio a diversos temas em um país estrangeiro, porém não é apenas mais um SitCom.

Master of None é um tapa na cara do espectador. Com um humor sadio politicamente correto e inteligente falando de racismo, imigração, sexualidade, entre outras coisas, a série causa uma reflexão séria dificilmente gerada por uma comédia. Sim, você vai rir - e também vai repensar suas atitudes em relação aos outros, à vida e a você.


Mr. Robot


Nota:

Durante o dia Elliot trabalha em uma empresa de segurança virtual e na horas vagas é um hacker, com um código de ética pessoal. Até que um grupo o convida para destruir aquilo que ele trabalha para proteger. Segundo seus princípios, ele tenta resistir a essa proposta e ao mesmo tempo acredita que esse alvo controla e destrói o mundo.  

E se você pudesse hackear o sistema capitalista democrático no qual vivemos atualmente quebrando-o para reestruturá-lo de forma mais justa? Como se isso fosse, metaforicamente, uma forma de libertar todos da Matrix. E se a escolha que essa possibilidade te trouxesse colocasse em xeque sua noção de moral, o senso de ética e invertesse a óptica - pela sua visão - da própria justiça? Mr. Robot vai inverter suas percepções da moralidade e justiça. Um arrependimento: não ter visto antes.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Saber Tanto Quanto o Personagem: Uma Imersão



Eu sempre gostei de estórias bem fechadas com começo, meio e fim. Todas as respostas nas nossas mãos, todos os nós dados, sem pontas soltas e uma coca, por favor moço. Para mim, se você vai contar algo que conte direito, eu era bem chata, não? Bem, essa visão mudou quando eu conheci The Walking Dead.

Você vai falar de The Walking Dead de novo?? / vou sim e se isso for um problema pode clicar ali no X da aba ._.



Muito bem, Rick acorda em um hospital e se vê em um mundo tomado por mortos vivos. Espera. Espera ai tio kirkman, tem algo muito errado nisso, está faltando algo aqui. Aqui ó, você não está me ouvindo né? Ele fatalmente não me ouviu e nunca soube que em sua HQ ficou faltando algumas páginas. Mas o que diabos aconteceu ali?? Como poderia ser normal você dizer que o mundo foi tomado por mortos vivos enquanto uma pessoa estava em coma sem explicar nada e todo mundo aceitar isso?

Mas tudo bem - não estava tudo bem, obviamente mas a vida continua né - a gente parte para os próximos quadrinhos, próximos episódios… Nós não sabemos o que acontece no mundo, sequer temos noticias de qualquer lugar através de artifícios do autor e a sensação de ~que diabos aconteceu naquela fenda temporal te persegue de uma forma bem incomoda.

Mas Fear…. - Não. Já falei sobre isso no outro post, me deixa continuar.

Só que de repente você percebe que esse desespero de não saber o que aconteceu é exatamente o mesmo do personagem e então te atinge em cheio a noção de como isso é genial, justamente o fato de não saber te proporciona os mesmos sentimentos do personagem. O mesmo desespero que ele, a mesma angustia que ele procurando sua família e depois o alivio de encontrar, a mesma confusão naquele mundo bizarramente transformado. Vocês passam pelas mesmas descobertas juntos e a visão de mundo do personagem se torna a sua. Pausa. Veja a genialidade, você entrou na mente dele, os olhos dele se tornaram os seus, a percepção de realidade dele se tornou a sua.

[spoiler] Eu acho que isso já caiu em conhecimento popular mas é bom usar a tag né. Bem, de repente eles descobrem que todos - tipo eu e você - já estão contaminados ou seja lá o que e só precisam morrer para virar walker e pense no quanto isso é desesperador e incrivelmente interessante. A essa altura que diferença faz você achar o paciente zero se não tem como curar as pessoas? Não tem como vacinar se não existe ninguém sem a “doença” para ser vacinado. É tão desalentador e caotico. Eu me lembro daquele momento na HQ da clássica frase “we are the walking dead” quando os personagens são tomados pelo choque de realidade que é de fato conviver com os mortos caminhando ao seu lado, assumindo esse mundo.[/spoiler]

Caminhar ao lado dos personagens - quase literalmente tamanha a sua imersão - até aqui, te proporciona uma sensação muito mais ampla e intensa quanto aos acontecimentos daquele universo. É um sentimento muito mais real e similar ao do personagem do que, se o autor te contasse seus segredos. Ele está te dizendo ~ eu quero que você experimente essas sensações, por isso nunca vou te contar como isso começou da mesma forma que os meus personagens não sabem, quero que você saiba tanto quanto eles e caminhe nesse mundo da mesma forma que eles, explore essa realidade da mesma forma que eles.

Chega a ser sedutor como de repente vira um enigma que não faz mais diferença ser desvendado, pelo menos partes dele, pelo menos para alguns de nós - sobre The Walking Dead, não me importa mais saber se existiu um paciente zero - se torna irrelevante esmiuçar todos os detalhes quando você pode entrar na mente do personagem e deixar fluir sob essa óptica.  

Há outros casos, mas esse foi de longe o mais marcante porque foi o que me fez mudar essa visão. Eu levei isso para minha escrita, porque eu percebi que não saber tudo me leva para dentro da narrativa de uma forma incrivelmente unica então passei a explorar isso convidando o leitor a caminhar ao lado dos meus personagens. Eu comecei a ver tudo de um jeito diferente e nunca mais questionei tanto as pontas soltas, claro depois de xingar - muito - o autor porque ninguém é de ferro né.

sábado, 24 de outubro de 2015

A Culpa é Sua Sim



Esse post surgiu de uma forma muito aleatória mas preocupante. Eu fui em um grupo do Facebook divulgar uma estória que estou escrevendo e primeiro fiquei frustrada ao perceber que as pessoas procuram muito mais por romances e hots e a minha tinha um foco completamente diferente. Bom, gosto é gosto. Então continuei passando pelas postagens e vi uma divulgação que me chamou atenção, eu encontrei algo realmente problemático e preocupante. Era um trecho, ou sinopse (eu não me lembro, e não importa realmente) que claramente indicava uma agressão e deixava claro que era uma relação consentida. Veja, eu não quero julgar quem fez isso, eu não peguei para ler e não tenho o menor interesse, o problema é existir  interesse, o problema é a romantização do abuso. Pouco importa como surgiu aquela relação ou que rumo ela ia tomar. Eu sei que eu estava dentro de um grupo do Facebook com uma parcela estatisticamente pequena para analise mas isso não deveria acontecer porque é uma carta branca dizendo que o assédio está liberado, é velado e quase sutil mas assustadoramente real.

Então, vamos falar sobre isso? A vida imita a arte, isso é tão verdade, mas tão verdade. A mente doente de quem diz que uma mulher e até uma criança pede para ser assediada de acordo com suas roupas tem um senso de realidade tão distorcido que ver as pessoas apreciando e romantizando o abuso é quase - se não for exatamente - um convite para a própria prática. Isso não é engraçado, não é legal e ~ o mais doentio ~ não é romântico.

Nós temos um discernimento muito bom de certo e errado, nós fazemos campanhas, damos apoios, incentivos, ensinamos, denunciamos, na vida real é tudo muito bonito ( ou não, óbvio). Mas a família tradicional brasileira, aquela do comercial de margarina que nosso legislativo defende, tem uma noção bem esquisita desse certo e errado quando apoia o que a televisão ensina, quando vê um romance bizarro onde claramente não deveria existir. Não é na ficção que está o problema, mas quando esse público apoia o assedio em vez de criticá-lo ele está dizendo sim; quando esse mesmo público critica o assédio real o agressor debocha na sua cara. 


Quando você diz “criança viada”, quando você pede nudes de uma menina de doze anos, então eu diria que você chegou no auge do absurdo. É assustador como a forma com que o ser humano está lidando com criança revela a nossa sociedade e isso é uma coisa incrível da combinação entre internet e seres humanos: eu não preciso assistir MasterChef Junior para chegar até mim a catástrofe que virou os comentários absurdos sobre essas crianças - crianças. O fato de estar atrás de uma tela confere ao ser humano uma capa da invisibilidade das mais chocantes possíveis, ele se revela para o mundo como se ninguém pudesse vê-lo, mas sabemos que ele está ali e que aquilo é exatamente o que ele é quando desliga o computador e vai viver sua vida. Nós não concordamos, nós nos horrorizamos, mas acredite, alimentamos essa sociedade assim.





Um spoiler sobre a vida: se você acha que estou culpando a vitima, você é burro e não entendeu nada. Eu culpo a nossa sociedade, a nossa cultura sim.
Se você faz piada com assédio, estupro, racismo, homofóbicas, machistas, com pedofilia, com campanhas que visam apoio a pessoas que sofreram algum tipo de assédio, se você romantiza o assédio - sim, a culpa pela nossa sociedade ser assim também é sua.

Desculpa McFly, não era esse o futuro que você deveria encontrar.

sábado, 10 de outubro de 2015

Muito Além dos Teams




Pense em um livro, pode ser o seu preferido, você é team o que? Ah, com certeza você pensou que eu estava falando do triangulo amoroso, mas por que você não pensou no herói ou na luta do bem contra o mal? Talvez nas questões e dilemas, ou quaisquer outros personagens, esse livro que você pensou fala exclusivamente de um triangulo amoroso? Então a capa dele deveria ser “com quem fulano fica”, nesse caso, na primeira página você deveria ler algo como “ignore toda a minha estória e se preocupe só com meu personagem principal e sua felicidade amorosa, foi para isso que eu fui escrito”.

Se nem Deus tem um fandom infalível, livros, filmes e séries não estão imunes a ter um tão problemático e as vezes até superficial que briga entre si enquanto deixa passar as verdadeiras questões da estória que, na verdade, deveria uni-los. Ocupados demais em separar-se e rivalizar-se em teams, shipps e discutir quem deve ser o casal definitivo, além (é claro) de quantificar e qualificar fãs e posers, todo o debate - muitas vezes realmente complexo - acaba num pano de fundo sujo, apagado e esquecido.

Claro que uma história de amor da um tempero diferente para uma guerra, um fim de mundo, uma desordem qualquer, mas sério? Vocês (ou nós, depende), legião de fãs não podem se resumir a quem vai ficar com quem, porque as estórias são muito mais do que isso - OK, a maioria.

Posso falar só de Jogos Vorazes aqui no meu espaço de exemplos? (pode moça, o blog é seu - obrigada). Se passa no futuro e a sociedade vive um regime totalitário, os jogos são realizados pela capital anualmente entre os doze distritos sob sua tutela. Katniss se oferece no lugar de sua irmã para impedi-la de ir para os jogos e protegê-la.  A população é obrigada a assistir pela televisão seus tributos lutarem até a morte e, olha só, até aqui eu não mencionei romance, olha quanta coisa tem nesse contexto. Tudo isso é sinopse viu gente, vou falar mais depois da tag.
[spoiler] Jogos Vorazes tem referencias a Roma Antiga: as carruagens, as bestas na arena, o pão & circo, esse ultimo tão presente hoje em dia e é esse o elemento que torna a estória tão atual e tão real. Não pela arena em si, pelos jogos, pelos realitys, por usar um entretenimento para desviar a atenção da população dos problemas de verdade. Claro que fora a capital e os carreiristas há controvérsias sobre o grau de entretenimentos dos jogos, em todo caso continua sendo um grande reality. E os nossos entretenimentos do dia a dia? como olhamos para eles?
Eu me lembro de uma cena que me chocou: uma reunião com os vencedores restantes, logo antes do ritual de execução do presidente Snow, em que eles devem decidir sobre um novo e simbólico Jogo com crianças da capital, crianças relacionadas com aqueles que possuíam maiores poderes. Katniss diz sim, por Prim. É como se tudo o que ela passou até ali tivesse sido em vão - não vem ao caso aqui o fim do livro e como as coisas se resolvem depois disso - porque havia uma causa em questão que, sendo a decisão dela movida por algo ou não, ela estava jogando fora com esse sim e eu achei isso chocante. Como se, depois da segunda guerra tivesse uma reunião para votar campos de concentração para loirinhos de olhos azuis simbolicamente como vingança ou tantos outros exemplos igualmente reais. Essa cena diz tanto, mas tanto de nós e da nossa realidade, de como somos e agimos. Não, eu não estou negando que a relação de Katniss com Peeta ou Gale não tenha importância para o desenvolvimento da personagem, suas decisões e que isso não reflita no desenrolar da estória, mas vejam quanta coisa importante existe além disso.[/Spoiler]


Vou deixar aqui esse video :)




Então pegue aquela estória em que você torce para o Frederico ficar com a Ferdinanda, abra a cortina dos shipps e mergulhe na essência daquele mundo. - Você ainda pode torcer para FF, mas não esquece de manter os olhos bem abertos para o que aquele universo está tentando lhe dizer.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Sobre Torcer Pelo Vilão e Nosso Dilema Moral (ou não)





A imersão na ficção é tão libertadora que te permite torcer pelo vilão sem as amarras da ética e da moral que delineiam nossa realidade. E o melhor, sem culpa. Você já fez isso, não negue. Depois, muito provavelmente, lavou as mãos sujas de pipoca e foi fazer qualquer outra coisa como se nada tivesse acontecido. (eu espero que você tenha no máximo derrubado o refrigerante, porque se tinha sangue do seu colega você tem um sério problema e eu preciso parar de escrever meus posts).


Você com certeza já assistiu algo que, basicamente, se resumia a uma grande caçada a um criminoso - por assim dizer - e isso pode ter durado duas horas, trinta e sete episódios, cinco temporadas, claro que há muitas variações mas não duvido que você desejou que não acabasse. Não duvido que você quis de verdade que a caçada continuasse para que seu, filme, série ou o que fosse durasse um pouco (muito) mais e naquele momento não passou pela sua cabeça egoísta que para isso outros personagens iam morrer, o tráfico ia continuar… Ah, nossos desejos egoístas matando e alimentando o crime fictício.



* Eu pensei sobre isso tudo quando estava assistindo The Fall - se você não viu eu recomendo ;) - eu simplesmente não queria que a série acabasse e depois pensei sobre. [Spoiler - The Fall] Eu lia os comentários no app de séries e algumas pessoas falavam sobre Spector ser sexy com memes e tudo mais e eu pensei no quanto isso é doentio (você falar da sensualidade de um assassino), mas no fundo eu não queria que ele fosse pego. Calma, não sou tão psicopata assim a ponto de curtir os assassinatos, o que eu realmente curtia no fato dele estar solto era o jogo de esconde-esconde entre ele e Gibson. A série não brincava de “vamos descobrir quem é o assassino”, ela mostrava os dois para o espectador, desde o começo sabíamos sobre Spector como se fosse um jogo e por isso a adrenalina cada vez que eles se aproximavam, por isso você quer que eles se aproximem mas que Spector não seja pego, quer ver até onde ele consegue chegar.[/Spoiler The Fall] [Spoiler Death Note] Tipo L e Raito em Death Note, é quase a mesma caçada, quase o mesmo jogo, tão genial quanto. Você torce para quem? Raito é um vilão se ele mata criminosos? É um serial killer? Isso é quase irrelevante quando os jogos dele são tão sedutores e a caçada tão intrigante que você (eu) só quer que continue em meio ao emaranhado que virou sua teia.[/spoiler Death Note]
[Spoiler Breaking Bad]Me diga, cidadão de bem, você apóia o tráfico? Mas provavelmente torcia por Walter White mesmo depois que ele conseguiu dinheiro para sua família - ah, era uma boa causa, ele até calculou a quantia certa e queria dar um futuro pros filhos - e esperava um final diferente de sua morte apesar dele ter cavado sua própria cova (claro que o câncer já ia matá-lo mas ele não morreria pelo tráfico se não fosse a ambição pelo poder de controle, convenhamos). Hum, o que me diz da sua moral relativa? [/Spoiler Breaking Bad]
[Spoiler Senhor das Armas]Mas relaxa que eu tenho uma boa noticia, Yuri termina Senhor das Armas em liberdade - eu avisei que tinha spoilers nesse trecho, não me olhe assim - depois de ser pego, é claro. Depois de torcermos por ele o filme inteiro, ah… não negue, você torceu por ele e respirou aliviado depois de seu discurso que o libertou. Afinal, alguém precisava fornecer armas para o inimigo do inimigo de seu captor e manter o tráfico de armas fluindo.  [/Spoiler senhor das armas]


A questão é que a caçada da um prazer quase sádico, enquanto relativizamos o certo e o errado de forma tão velada e imperceptivel desejando que a perseguição não termine nosso senso de moral está em stand by, o bem e o mal estão em xeque e talvez a gente nem se de conta que abstraímos tantas coisas porque simplesmente terminamos e partimos para outra. As vezes rola uma ressaca (umas bem pesadas do tipo ~ minha vida perdeu o sentido ~ e não sei o que fazer) mas sim, a gente sempre parte pra outra sem pensar realmente sobre isso, sobre o quão prazeroso é acompanhar e torcer pelo “lado errado”. (e por que não, por quê fazemos isso?).



Mas OK, enquanto você não levar isso pra vida real, tudo bem. *Eu havia feito um pacote só no trecho com spoiler e uma unica marcação colocando a tag no inicio e no fim do trecho mas acabei especificando certinho o trecho onde cito cada coisa para o caso de alguém já ter visto cada coisa poder selecionar e ler a parte especifica.