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Siga o coelho e entre na toca, Aqui você vai encontrar textos sobre várias coisas te convidando a refletir. Mas lembre-se, eles foram escritos por alguém e expressam uma opinião, não uma verdade, você pode discordar ou não. * Spoilers estão identificados e ocultos, para ler selecione o trecho.

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terça-feira, 27 de junho de 2017

Depois de todo esse tempo?



**Hoje, há vinte anos, Harry Potter saiu de um mundo particular e ganhou o mundo transformando a vida de milhares de pessoas para sempre. O mesmo livro de duzentas páginas que nenhuma criança iria ler, o mesmo livro recusado por várias editoras, o mesmo livro com um pseudônimo porque foi escrito por uma mulher - e quem leria um livro escrito por uma mulher? Hoje, há vinte anos, Harry Potter nasceu para o mundo para nos ensinar sobre amor, amizade, diversidade e superação.

~Mas você vai falar só sobre Harry Potter?
~Vou.
~Mas você já fez isso.
~O X fica ali em cima.

Se a vida imita a arte, a arte imita a vida e nem tudo é o que parece. Nós aprendemos que palavras são nossa inesgotável fonte de magia, capazes de causar grandes sofrimentos e também de remediá-los afinal foi justamente com palavras que JK tocou e mudou completamente a vida de tanta gente; aprendemos que nossas escolhas mostram quem somos muito mais do que nossas habilidades porque o que fazemos com aquilo que somos é o que realmente nos define e nós temos o poder de escolher; que podemos encontrar felicidade mesmo nas horas mais sombrias - não que seja fácil. Acima de tudo, que existe muito mais por trás de alguém além de rótulos ainda que a gente insista em encaixar as pessoas em rótulos em nosso dia a dia. Se o bruxo mais corajoso que já existiu foi um Sonserino que viveu e morreu por amor e o mais covarde foi um Grifinório, como podemos olhar para alguém e julgar a pessoa ou enfiá-la em conceitos que nunca poderão definir completamente alguém? Não seria estúpido?

Em meio a uma releitura da segunda guerra na qual Voldemort caça trouxas e meio sangue, num texto cheio de metáforas e simbolismos fantásticos sobre igualdade e diversidade sobre a importância de ser você mesmo e como as nossas diferenças nos unem; aprendemos que o amor é o feitiço mais poderoso. O poder do amor e da amizade se misturam e nos envolvem no meio de todo o caos da guerra, porque no fundo cada um são personagens tão humanos que tem em si sua própria luz e trevas reveladas a nós conforme somos tragados em meio a magia desse mundo.



E, aprendemos ainda que, para a mente bem estruturada a morte é apenas a grande aventura seguinte. Não somos, obviamente, nenhum Dumbledore, e não estamos preparados para isso nem lá e nem no nosso mundo trouxa.. Embora Harry tenha escolhido viver e a gente saiba que podemos fazer nossas próprias escolhas. Embora depois de tudo isso a gente tenha aprendido a ver o mundo e as pessoas de outra forma, embora muitas outras coisas.

Mais do que uma geração com começo, meio e fim, o fandom é toda uma legião que cresce a cada dia sem qualquer fronteira. Essa magia poderosa sobre amor, amizade, diversidade está em cada um e se renova a todo momento como um organismo vivo.

Muito obrigada, JK.

After all this time?
~Always

**Só é amanhã quando eu acordo, se eu ainda não fui dormir, ainda é hoje (26-06), ok? ok.

sábado, 3 de junho de 2017

Nós Precisamos Falar Sobre Sense8



Existem coisas na vida que não trabalham com meio termo e despertam amor ou ódio nas pessoas, ainda que uma boa parcela desses grupos deixe se levar pelos motivos errados - é muito triste, se não trágico como tanta gente reduz Sense8 a sexo. Convenhamos, grande parte dessa aversão é responsabilidade - sim, não quero usar culpa aqui - do próprio fandom quando ele se divide em brigas particulares e internas passando uma imagem completamente errada e imatura sobre algo que deveria ensinar sobre ser humano - ou milhares de outras mensagens igualmente importantes, em tantos outros casos. Tudo bem, se nem Deus tem um fandom perfeito quem dirá uma simples série? Mas não estamos falando de uma simples série. Nós precisamos falar sobre Sense8.  ~ Mas você vai falar só sobre Sense8? // Vou // Só sobre Sense8? // Vou // Mas já tem tanta gente falando // Você pode clicar no X ali em cima ~

A verdade é que grande parte de quem ama ou odeia, ama ou odeia Sense8 exclusivamente por causa das cenas de sexo (oi, vamos falar sobre as nossas novelas super moralistas?). Mas hipocrisias a parte, todo grupo de pessoas tem um subgrupo que distorce as ideias desse grupo e são exatamente essas ideias erradas que as pessoas de fora vão colocar uma lupa e usar para julgar as coisas, na maioria das vezes sem conhecer - sim, as pessoas fazem isso, eu sinto muito. Se você ama Sense8 por causa das clássicas cenas de suruba ou se você odeia Sense8 por causa das clássicas cenas de suruba, nós temos algumas opções: você assistiu errado, assiste de novo; você nunca assistiu e julgou sem conhecer, vai assistir e formar sua opinião; fim. Se você gosta ou não por qualquer outro motivo, parabéns por não se comportar como uma criança olhando para o livro de biologia. ~ Apesar da classificação indicativa, grande parte do público não entendeu essas cenas de sexo e tratava elas como uma criança de treze anos na aula de biologia, sinto muito por isso Lilly e Lana Wachowski.


Sense8 é antes de tudo sobre ser humano e trata a diversidade como um mecanismo natural da evolução, a diversidade em seu conceito mais puro e amplo: a conexão humana. Como falar em ser humano como verbo sem falar em sexualidade, machismo, racismo, intolerância religiosa, desigualdade social, preconceito, coragem, amor, família, amizade, união, solidariedade... ? A complexidade que conecta as pessoas é muito maior e mais profunda do que isso e, como falar sobre conexão humana sem desconstruir tudo o que já conhecemos e repensar todos os conceitos do mundo? Porque não existe conexão humana se primeiro você não se despir de todos os rótulos que o mundo te ensinou até hoje e olhar para as pessoas a sua volta da forma mais pura que existe, para enxergar sua alma e seus sentimentos, seus pensamentos e suas necessidades - para enxergar outro ser humano como você. Sense8 ensina a repensar tudo o que já aprendemos até hoje sob outra perspectiva a partir do momento em que coloca a relação com o outro como um aspecto da evolução. O que poderia ser mais profundo do que olhar para uma pessoa como outro ser humano?

Mais que isso, é sobre empatia. E você não precisa ser homem, mulher, feminista ou gay para se identificar com a pessoa ao seu lado, só precisa ser humano para ter empatia.

Enquanto estivermos juntos, eu sei que não tem nada que não podemos fazer

Sense8 era uma série ousada em muitos sentidos, tanto conceitual quanto executivo. Você não pode falar para as pessoas reformatarem seu HD interno e redefinirem seus conceitos esperando que fique tudo bem, também não pode gastar nove milhões por episódio e esperar que fique tudo bem. Como toda grande ousadia tem seus riscos, Sense8 encontrou seu fim precoce. Mas também deixou todo um legado e seu fandom é o maior cluster do mundo que vai passar adiante cada mensagem.